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quinta-feira, 19 de abril de 2012

A centelha divina de John Zorn




Antes de qualquer assunto musical, gostaria de dar as boas-vindas aos leitores que a partir de hoje passam seus olhos por essa página, e contar um pouco do que me motiva sustentá-la. Assim como perceberão certo intimismo na minha escrita, essa característica encontra-se também na forma como irei tratar a música aqui – impressões, sensações, e relatos de experiências sonoras. Nem obstante e nem imerso à crítica.

Além do que acontece no mainstream da música, falarei bastante também do meio underground, da música de vanguarda – que pouco é mencionada no Brasil. E é a partir dela que abro as cortinas para apresentar-lhes o primeiro álbum de 2012 que suscitou estes dedos a lavrar sobre: The Gnostic Preludes.

 O pré-requisito essencial da filosofia gnóstica é o postulado da existência de uma "entidade imortal", que não é parte deste mundo, que pode ser chamado de Deus interno, Centelha divina, Crístico, divina essência etc, que existe em todos os homens e é a sua única parte imortal. Os gnósticos consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural", pois ele está submetido a todo tipo de sofrimentos. Para eles, é necessário que o homem se liberte deste sofrimento, e isto só pode ocorrer pelo conhecimento.
  
Aqueles que estão familiarizados com a figura do músico nova-iorquino John Zorn, sabem do seu saxofone estonteante, gritando notas que se agitam em seus dedos céleres – como, por exemplo, em Painkiller, formada com um membro da banda de grindcore Napal Death.  Mas, a outra extremidade de sua linha tênue de trabalhos são menos conhecidas – como álbum Femina, O’o e alguns trabalhos com o seu projeto que mistura jazz com música klezmer, vinda da sua raiz judaica – que ainda assim, como a outra extremidade – arranca sulcos profundos na consciência. É o que acontece no meditativo The Gnostic Preludes, seu mais recente trabalho lançado pelo seu próprio selo, o Tzadik (que conta com uma lista de músicos de vanguarda).

Nesse mais recente trabalho, Zorn conta com três instrumentistas para a execução de seus temas e arranjos escritos, são eles: Bill Frisell (guitarra), Carol Emanuel (harpa) e Kenny Wollesen (vibrafone e sinos). Essa formatação torna-se um aspecto interessante pois, pensando primeiramente nas cordas, temos um trabalho de contraponto entre a guitarra e a harpa, e o vibrafone e sinos ressoando e cantando espaços deixados pelos outros instrumentos. Outro ponto é o aspecto sonoro metálico, que impõe uma sensação de frieza nas notas e nuances, digna de um filme mudo, denso e neblinoso. Essa densidade leve dos vários timbres talvez seja responsável pela lareira inconsciente que se acende, quando se escuta as Oito faixas que compõem o disco: tirando-te de um estado, mas não do local onde este se encontra. É confortável e incitante ao mesmo tempo, vindo daí a característica meditativa do disco – além do que diz o próprio título e significado do gnosticismo: não é somático, mas interior e profundo.

Dentre todas as faixas, destaco Prelude 1: The Middle Pillar, que abre as portas da percepção do álbum de forma brilhante; Prelude 3: Prelude of Light e sua marcante abertura e desenvolvimento; Prelude 4: Diatesseron, muito próximo ao trabalho de Zorn com o Acoustic Masada e da música klezmer; e Prelude 8: The Invisibles que finaliza o disco deixando soar uma espécie de despertar sonâmbulo de um transe conservado até então.

Sobre John Zorn

   Nasceu na cidade de Nova Iorque e ainda quando criança aprendeu a tocar piano, violão e flauta. Sua família tinha gostos variados, dos quais ele ganhou apreciação pela música clássica e world music através de sua mãe, e jazz e ‘chansons’ francesas através de seu pai. Despertou seu interesse pela música experimental e avant-garde através de uma gravação do compositor Mauricio Kagel – um dos mais inovadores autores da música pós-serial.
  Estudou música com Leonardo Balada e durante esses anos, aprendeu sozinho sobre orquestração e contraponto, transcrevendo trilhas e usando-as em sua própria composição, numa espécie de colagem e transposição para o seu íntimo universo sonoro. Iniciou seus estudos de saxofone por influência do trabalho de Anthony Braxton, e à partir daí incorporou elementos do free jazz e de trilhas para desenho animado, inspirado por Carl Stalling.
   Músico prolífico, Zorn trabalha em vários projetos musicais, e além dos citados aqui, apresenta-se em jam session com Lou Reed, Mike Patton (Faith No more) e outros grandes nome.
   Esteve no Brasil recentemente para tocar com o Masada, seu trabalho mais ativo no momento.








Artista: John Zorn

Álbum: The Gnostic Preludes

Lançado em: 2012
Estilo: Avant-garde 


01 – Prelude 1 The Middle Pillar

02 – Prelude 2 The Book of Pleasure

03 – Prelude 3 Prelude of Light
04 – Prelude 4 Diatesseron
05 – Prelude 5 Music of the Spheres
06 – Prelude 6 Circumambulation
07 – Prelude 7 Sign and Sigil
08 – Prelude 8 The Invisibles


3 comentários:

  1. Comenta por favor sobre o novo cd da Riana??? Heim Please. Bjx

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  2. Tipo vende cd na loja? Se vender já quero o novo CD das Xtina. A ex gordinha vai sambar na cara da Rihana

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  3. Que som delicioso!!!
    E eu que não conhecia e me perdi nas nomenclaturas fiquei aqui ouvindo em loop! Rs.
    A única coisa que sei dizer é da paz que este som me transmitiu. Simplesmente fantástico!!!

    Adorei a primeira postagem, Diogo!
    Sucesso com a coluna!

    Espero fazer muitas outras excelentes descobertas por aqui!
    Abraços.

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